quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Até um risco numa tela?

           Devem estar a achar estranho este título, ora títulos não costumam ser perguntas, mas sim este também não é… Até a que ponto pode ir a arte? Será que um risco numa tela é arte? Tudo isto vai ter de partir da definição, supostamente subjetiva, da arte, pois afinal o que é a arte?
Meus caros a arte não é nada mais nada menos que a expressão do ser humano, uma necessidade demasiado forte, inconsciente e incompreendida, de mostrar aos outros o que sentimos, o que fomos, somos, ou queremos ser e que nos afeta a todos de diferentes maneiras, que pela sociedade podem ser interpretadas como sendo mais ou menos artísticas (mas afinal o que é que os outros sabem de nós para nos poderem catalogar…).
            Assim ao fazermos a nossa arte nós sentimo-nos extremamente realizados e felizes apenas por concretizá-la, porque apesar das milhentas emoções diferentes que possamos ter como motivação para a fazer, o último e imperial objectivo é aquela sensação de libertação de nos vermos noutro sítio,  seja esse lugar uma tela, uma escultura, um texto, uma música, até um sorriso ou um olhar. Logo ao contrário do que se pensa a arte é inevitavelmente egoísta, pois tal como uma bomba, que apesar de poder atingir tudo à sua volta, só é destinada a uma coisa, e isso seria: a nós próprios.
            Continuando, sendo que a arte é para quem a faz, ninguém nos pode dizer que o nosso risco na tela não é arte, nós é que o decidimos e é bom que sejamos honestos pois não há nada mais grave do que mentirmos a nós próprios, do que fazermos algo, apregoarmos que é a nossa arte mas que no nosso íntimo sabermos que foi apenas para fazer aquelas férias nas Caraíbas…
            Portanto o que vem a ser esta cena de “sensação de libertação de nos vermos noutro sítio”, realmente é a isto que se resume a arte… Não vos posso dar uma definição matemática, porque tal como o nome indica é apenas uma sensação, mas o que é a nossa vida afinal senão um acumular de diferentes sensações, que prolongadas transformam-se em momentos, acontecimentos, dias, meses, anos, uma vida… E agora qual a necessidade de nos vermos noutro sítio? O que somos, o que nos define? Será que eu sou o meu corpo? Se me amputassem toda deixaria de ser eu? Será que é possível os outros reconhecer-me em alguma outra coisa senão em mim própria? A resposta é sim, óbvio: na Arte.

            Concluindo quem faz a arte somos nós mesmos, independentemente de ser um risco numa tela ou não, por exemplo imaginem que eu estava a fazer o pino apenas apoiada com um braço no chão, com um pincel na outra e conseguia fazer um risco perfeitamente reto? Poderiam ver o quadro no final e parecer tremendamente despropositado, mas que sabem eles sobre esse quadro… O importante está em não desonrar a Arte, pois sem ela o que seria de nós?

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