sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Conversão de São Paulo (2)



Caravaggio, «São Paulo»

Conversão de São Paulo

1E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote. 2E pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns neste Caminho, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. 3E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. 4E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? 5E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões. 6E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer. 7E os homens, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém. 8E Saulo levantou-se da terra, e, abrindo os olhos, não via a ninguém. E, guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco. 9E esteve três dias sem ver, e não comeu nem bebeu. 10E havia em Damasco um certo discípulo chamado Ananias; e disse-lhe o Senhor em visão: Ananias! E ele respondeu: Eis-me aqui, Senhor. 11E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e vai à rua chamada Direita, e pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está orando; 12E numa visão ele viu que entrava um homem chamado Ananias, e punha sobre ele a mão, para que tornasse a ver. 13E respondeu Ananias: Senhor, a muitos ouvi acerca deste homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém; 14E aqui tem poder dos principais dos sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome. 15Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel. 16E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome. 17E Ananias foi, e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. 18E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado. 19E, tendo comido, ficou confortado. E esteve Saulo alguns dias com os discípulos que estavam em Damasco. 20E logo nas sinagogas pregava a Cristo, que este é o Filho de Deus. 21E todos os que o ouviam estavam atônitos, e diziam: Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam este nome, e para isso veio aqui, para os levar presos aos principais dos sacerdotes? 22Saulo, porém, se esforçava muito mais, e confundia os judeus que habitavam em Damasco, provando que aquele era o Cristo. 23E, tendo passado muitos dias, os judeus tomaram conselho entre si para o matar. 24Mas as suas ciladas vieram ao conhecimento de Saulo; e como eles guardavam as portas, tanto de dia como de noite, para poderem tirar-lhe a vida, 25Tomando-o de noite os discípulos o desceram, dentro de um cesto, pelo muro. 26E, quando Saulo chegou a Jerusalém, procurava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não crendo que fosse discípulo. 27Então Barnabé, tomando-o consigo, o trouxe aos apóstolos, e lhes contou como no caminho ele vira ao Senhor e lhe falara, e como em Damasco falara ousadamente no nome de Jesus. 28E andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo, 29E falava ousadamente no nome do Senhor Jesus. Falava e disputava também contra os gregos, mas eles procuravam matá-lo. 30Sabendo-o, porém, os irmãos, o acompanharam até Cesaréia, e o enviaram a Tarso. 31Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo. 32E aconteceu que, passando Pedro por toda a parte, veio também aos santos que habitavam em Lida. 33E achou ali certo homem, chamado Enéias, jazendo numa cama havia oito anos, o qual era paralítico. 34E disse-lhe Pedro: Enéias, Jesus Cristo te dá saúde; levanta-te e faze a tua cama. E logo se levantou. 35E viram-no todos os que habitavam em Lida e Sarona, os quais se converteram ao Senhor. 36E havia em Jope uma discípula chamada Tabita, que traduzido se diz Dorcas. Esta estava cheia de boas obras e esmolas que fazia. 37E aconteceu naqueles dias que, enfermando ela, morreu; e, tendo-a lavado, a depositaram num quarto alto. 38E, como Lida era perto de Jope, ouvindo os discípulos que Pedro estava ali, lhe mandaram dois homens, rogando-lhe que não se demorasse em vir ter com eles. 39E, levantando-se Pedro, foi com eles; e quando chegou o levaram ao quarto alto, e todas as viúvas o rodearam, chorando e mostrando as túnicas e roupas que Dorcas fizera quando estava com elas. 40Mas Pedro, fazendo sair a todos, pôs-se de joelhos e orou: e, voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te. E ela abriu os olhos, e, vendo a Pedro, assentou-se. 41E ele, dando-lhe a mão, a levantou e, chamando os santos e as viúvas, apresentou-lha viva. 42E foi isto notório por toda a Jope, e muitos creram no Senhor. 43E ficou muitos dias em Jope, com um certo Simão curtidor.

 Actos dos Apóstolos, 9

Conversão



Hans Speckaert, «Conversão de São Paulo na Estrada de Damasco»

Madalenas

Havia já muitos anos que, de Combray, não existia para mim tudo o que não fosse o teatro e o drama do meu deitar, quando, num dia de Inverno, ao regressar a casa, a minha mãe, vendo-me com frio, me propôs que, contra o meu hábito, tomasse um chá. Comecei por recusar e, não sei porquê, mudei de opinião. Ela mandou buscar um daqueles bolos pequenos e roliços chamados «madalenas», que parecem ter sido moldados na concha estriada de uma vieira. E não tardou que, maquinalmente, abatido pelo dia taciturno e pela perspectiva de um triste dia seguinte, levei à boca uma colher de chá onde deixara amolecer um pedaço de madalena. Mas no preciso instante em que o gole com migalhas d ebolo misturadas me tocou no céu da boca, estremeci, atento ao que de extraordinário estava a passar-se em mim. Fora invadido por um prazer delicioso, um prazer isolado, sem a noção da sua causa. Tornara-me imediatamente indiferentes as vicissitudes da vida, inofensivos os seus desastres, ilusória a sua brevidade, do mesmo modo que o amor opera, enchendo-me de uma essência preciosa: ou, antes, tal essência não estava em mim, era eu mesmo. Deixara de me sentir medíocre, contingente, mortal. Donde poderia ter vindo aquela poderosa alegria? Sentia-a ligada ao gosto do chá e do bolo, mas ultrapassava-o infinitamente, não devia ser da mesma natureza. Donde vinha? Que significava? Onde agarrá-la? Bebo um segundo gole, no qual nada encontro a mais que no primeiro, e um terceiro que me traz um pouco menos que o segundo. É tempo de parar, a virtude da bebida parece estar a diminuir. É evidente que a verdade que procuro não está nela, mas em mim. Ela despertou-a, mas não a conhece, e não pode mais do que repetir indefinidamente, cada vez com menos força, aquele mesmo testemunho que não sei interpretar e que, pelo menos, quero poder tornar a pedir-lhe e reencontrar intacto, à minha disposição, daqui a pouco, para um decisivo esclarecimento. Poiso a xícara e volto-me para o meu espírito. A ele cabe encontrar a verdade. Mas como? Grave incerteza, sempre que o espírito se sente ultrapassado por si mesmo; quando ele, o explorador, é todo ele o país escuro que tem a explorar e onde lhe não servirá de nada toda a sua bagagem. Explorar? Não só: criar. Está diante de algo que não é ainda e que só ele pode tornar real e depois fazer entrar na sua luz.
E recomeço a perguntar a mim mesmo qual poderia ser esse estado desconhecido, que não trazia consigo qualquer prova lógica, mas sim a evidência da sua felicidade, da sua realidade, diante da qual as outras se esfumavam. Pretendo tentar fazê-lo reaparecer. Retrocedo pelo pensamento ao momento em que tomei a primeira colher de chá. Reencontro o mesmo estado, sem uma clareza nova. Peço ao meu espírito mais um esforço,, que me traga mais uma vez a sensação que se escapa. E para que nada quebre o impulso com que vai tentar reagarrá-la, afasto todos os obstáculos, todas as ideias alheias, protejo os meus ouvidos e a minha atenção contra os ruídos do quarto contíguo. Mas, sentindo que o meu espírito se fatiga sem o conseguir, forço-o, pelo contrário, a tomas essa distracção que eu lhe recusava, a pensar noutra coisa, a restabelecer-se antes de uma suprema tentativa. Depois, pela segunda vez, faço o vazio à frente dele, torno a pôr diante dele o sabor ainda recente daquele primeiro gole, e sinto estremecer em mim qualquer coisa que se desloca, que queria erguer-se, qualquer que terão desancorado, a uma grande profundidade; não sei que é, mas sobe lentamente; sinto a resistência e oiço o rumor das distâncias atravessadas.

Não há dúvidas de que o que assim palpita no fundo de mim deve ser a imagem, a recordação visual, que, ligada a este sabor, tenta segui-lo até mim. Mas debate-se muito longe, muito confusamente; mal posso discernir o reflexo neutro onde se confunde o inapreensível turbilhão das cores agitadas; mas não posso distinguir a forma, pedir-lhe, como único intérprete possível, que me traduza o testemunho do seu contemporâneo, do seu inseparável companheiro, o sabor, pedir-lhe que me diga de que especial circunstância, de que época do passado se trata. 

Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido, Do Lado de Swann

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O que é o "cânone"?

O "cânone" é o conjunto das obras literárias mais polémicas, também chamadas de "clássicos" que por esta razão são discutidas e frequentemente incluídas nos programas escolares. Fazem parte da cultura geral. Mas nem todos concordam com esta ideia de cânone, tendo diferentes opiniões sobre o que consideram ser clássicos; e a necessidade de discussão deste tema diz respeito, também, muitas vezes, aos autores canónicos e aos autores que vão surgindo ao longo do tempo ("recém-chegados"), com o objetivo de tentar encontrar lugar para eles e para suas as obras nos "cânones".
O Cânone:

O cânone é um conjunto de autores e de obras consideradas modelos de referência da cultura nacional (clássicos da literatura), um conjunto de obras literárias que todos deveriam de conhecer e que desde cedo é abordado nas escolas.

No entanto existe uma grande controvérsia sobre quais seriam as obras a serem incluídas neste conjunto, pois cada pessoa, cada comunidade, cada povo, tem as suas preferências e opiniões nas escolhas literárias, tornando o cânone subjectivo.

Rui Paraíso
"Nighthawks"de Edward Hopper

Nighthawks é uma pintura de 1942 de Edward Hopper que retrata pessoas sentadas num restaurante durante a noite.

Hopper pintou a obra num cenário pós o ataque a Pearl Harbor (2ª Guerra Mundial). Após o ataque, houve um sentimento generalizado de tristeza por todo o país, um sentimento que é retratado na pintura.

Na pintura é visível uma rua totalmente vazia, onde um restaurante ainda está aberto ao público. No balcão estão três pessoas, um casal e um homem virado de costas, todos perdidos entre pensamentos e sem conversar uns com os outros. Já o empregado parece estar a olhar para fora do estabelecimento.

A luz do restaurante ilumina toda a rua chegando até à janela de uma segunda loja do outro lado da rua.

O clima está quente como se pode confirmar pela maneira de como a mulher se veste.

E em cima do restaurante está em destaque um anúncio dos cigarros "Phillies".

Este é um retrato da vida urbana moderna, vazia e solitária.

Ao olhar com atenção reparamos que tanto o bar como o balcão não têm saída formando uma armadilha de que não se consegue sair.

 
Rui Paraíso

O que é o cânone?


Na perspectiva do autor o cânone é o conjunto das obras, dos grandes clássicos, que constituem a literatura e cultura de um país, apresentam-se desde cedo nas escolas e são objecto de discurso e referência. Contudo nem todos, apoiam este cânone, nem todos consideram as ditas obras dignas de serem etiquetadas como modelos ou grandes obras, daquelas que nos devem servir de exemplo, pois como podemos imaginar cada um deve ter a sua opinião sobre o que acha que deve ser e o que não deve, assim para definir um cânone temos que contar com a subjetividade das pessoas.

O que é a Literatura?

Antônio M. Feijó caracteriza a literatura como "um corpo muito instável", "algo solene e falso", dizendo que para algo ser classificado como um <clássico>, tem de ser aceite e tomado como interessante pelos "pares" do autor, "...Como um grupo de marceneiros a olhar para uma cómoda e a reconhecer que está bem feita."

"Nighthawks" de Edward Hopper


Nesta pintura podem observar-se quatro pessoas num café, três clientes e um empregado. É de noite e a rua está deserta. As duas pessoas ao canto parecem ser um casal, o homem que está sozinho parece estar à espera de algo do empregado que aparenta estar atarefado.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

"Cape Cod Morning" de Edward Hopper

Uma última vez

Estávamos na Primavera de 1942. Por todo o lado ouviam-se rumores sobre a guerra, sobre os Alemaes e os judeus, sobre os campos de concentração e as mortes. A cada dia que passava, mais americanos eram enviados para Inglaterra a fim de combaterem ao lado dos Aliados, sem nunca ter a certeza se voltariam para casa.
Tínhamos ido passar uma semana na nossa casa do prado, longe de tudo e todos, onde apenas se ouvia a aragem a passar no meio das ervas altas e o chão de madeira gasto a ranger quando o pisávamos. Costumávamos passar cá temporadas nesta altura do ano: o bom tempo era uma razão para nos alegrarmos e celebrarmos porque com este vinham, também, as longas noites a observar as estrelas, os serões passados com os amigos, as gargalhadas, os dias quentes e compridos, os passeios de mãos dadas sem fim, a tranquilidade.
Mas agora, nenhum de nós falava, só se ouvia a sua respiração meia ofegante. Ambos fixávamos a carta em cima da mesa, aterrorizados. Sabíamos o que significava. Lentamente, espreitei pelo canto do olho e vi que o seu rosto não tinha expressão, estava imóvel como uma estátua fria e morta.
Estendi a minha mão trémula e, devagarinho, segurei a dele como se de cristal se tratasse. Não reagiu durante alguns segundos. Em seguida, olhou para mim com os olhos azuis outrora radiantes, mas que agora pareciam desolados e puxou me para si envolvendo me nos seus braços com força. Não aquela força que nos faz sentir claustrofóbicos e sem ar mas aquela que nos sabe bem quando aplicada na altura certa, que nos faz sentir especiais.
Não sei quanto tempo ficámos assim mas as minhas mãos em torno do seu pescoço recusavam larga-lo. Nem queria pensar que este abraço se estava prestes a tornar apenas uma memoria, em breve esquecida no tempo. Era uma ideia inaceitavel.
Passei os meus dedos delicados pelo seu cabelo macio, enquanto ele acariciava o meu, e cheirei, suavemente, o seu perfume. Fechei os olhos e comecei a sussurrar-lhe ao ouvido uma canção especial, uma há muito nossa conhecida, na esperança de afugentar os demónios que se apoderavam dos seus pensamentos.
Foi escurecendo por isso fomo-nos deitar porém os minutos pareciam horas enquanto permanecíamos ali, deitados a frente a frente, tentando não fechar os olhos pesados e escutando o silêncio ensurdecedor que fazia questão de partilhar aquele quarto connosco.
E então, amanheceu. Depois de vestir o seu uniforme, calçar as suas botas e pôr o seu saco às costas, dirigimo-nos os dois à porta acompanhados pelo ranger do chão antigo a cada passada.
Lá fora, o sol rasgava o horizonte preenchendo o prado com um tom dourado. O ar estava abafado e irrespirável.
Ele voltou-se para mim e os seus lábios tocaram os meus uma última vez.
“ Vou ter saudades” disse ele, e partiu.
Fui para dentro e da janela observei-o, enquanto se afastava por entre as ervas, com o coração nas mãos.





domingo, 20 de outubro de 2013

''Nightawks'' de Edward Hopper

    Acabei o meu trabalho ás 22:00 da noite, vou a pé para casa pois o meu carro está na oficina. A caminho de casa deparo-me com um bar, o bar Phillies , olho la para dentro vejo um casal, um empregado e mais ninguém, não sei porquê mas no instante seguinte a minha mão estava na maçaneta da porta do bar, entrei, sentei me, pedi uma cerveja e comecei a pensar.
     Pensei em toda a minha vida, as alegrias, as tristezas, os medos, na minha família e no meu divertimento. E neste bar nessa noite cheguei a uma conclusão que com 37 anos de vida que já passaram não tinha feito nada de extraordinário nela e de seguida olhei para o casal e vi que estavam a aproveitar cada momento que estavam juntos como fosse o último  e assim decidi-me. Paguei ao empregado , saí do bar e fui para casa lá contei tudo  á minha família e rapidamente planeamos o nosso futuro e assim todas as noites depois do trabalho ia ao mesmo bar sentava me no mesmo banco sempre de casaco e chapéu pedia uma bebida e sentia me feliz pois tinha sidoo naquele bar e daquela maneira que tinha conseguido que a minha vida mudasse completamente e assim desfrutar cada momento com a minha família de uma forma muito mais divertida e inovadora.



Francisco Proença

"People in the sun" de Edward Hopper

Pequenos cirros mancham o azul do céu.
 A luz do sol, amarela, escorre pelo campo e parece querer trepar as escuras e rochosas montanhas que fronteiram a propriedade. A luz desliza e flui juntamente com a aragem branda que agita a seara, tornando-a como uma ser vivo. Junto da casa grande, cinco homens e mulheres estão sentados em cadeiras de jardim em madeira. Tinham-se estabelecido no pátio para aproveitar uma das últimas tardes de sol num dos primeiros dias frios. Quatro dessas pessoas parecem contemplar o sol. Um homem permanece sentado atrás, arrastado até ao pátio. Lê um livro. Parece mais novo que os dois homens e duas mulheres à sua frente, que desfrutam a tarde. Mas todos aparentam pensar, reflectir em algo que não o sol, a tarde, o livro. Receiam algo.

"Gas", de Edward Hopper, 1940

 Um velhote fecha a sua bomba de gasolina, em mais um dia tranquilo e longo. A noite está a chegar à floresta, o homem prepara-se para fechar a bomba e inicia mais uma viagem até casa.


 O quadro representa uma fronteira, entre a civilização, humana, moderna, que vai conquistando espaço ao que é desconhecido; e entre a natureza, simples, misteriosa, e aparentemente impotente.

  A bomba, representativa da civilização, não consegue sobrepor-se à grande floresta e à sua escuridão imensa. A pintura também representa a solidão da bomba em relação ao mundo. O homem, e a sua bomba de gasolina, são o único rasto de humanidade no meio da imensidão da floresta americana.
 

"New York Interior" de Edward Hopper

A noiva desolada

         Tudo começou em casa da minha tia, era dia 25 de dezembro, no ano de 1921, o ano em que fizera 17 anos, era Natal, mas uma certa agitação incomodativa enchia o ar, tinha calafrios, sentia-me constrangida, naquele lugar e naquela hora tudo parecia não encaixar, eu não pertencia ali, trocavam-se sorrisos falsos, abraços frios e olhares invejosos, era tudo menos Natal. Foi aí que passado um interminável jantar a observar os candelabros, o repetitivo papel de parede, de escutar aqui e ali a conversas, chega até mim apressadamente a minha tia, seus olhos brilhavam como chamas acesas e sua boca tremia de ansiedade. Nesse momento passou-me um arrepio pelo corpo avisando-me de que algo não estava bem... Até que vejo ao meu lado um rapaz, estava branco como a cal, muito sério e que devia ter para aí a minha idade, bem não fui capaz de continuar a minha avaliação pois fui interrompida por quem já esperava ser: a minha tia. Começa com um discurso atrapalhado e pretensioso tentando me apresentar o tal rapaz dizendo que ele vinha da família blablabla, que vivia... perdi-me, aquela minha tia sabia como cansar e adormecer uma pessoa. Foi assim que desapareceu e o pobre rapaz foi deixado sozinho ao meu lado sem saber bem o que fazer olhando curvado para o chão.
Saberia lá eu alguma vez na minha vida que aquilo estava a ser programado  e esperado pela minha família desde á muito tempo. Sim aquilo não era coisa boa, era assustador e manipulador, fazia-me sentir mal cada vez que olhava no espelho, pois só via uma marioneta a ser arrastada por fios num palco comprido e vazio, arrastavam-me de lá para cá e cá para lá e eu já tonta e sem rumo, confusa com a vida. Aquilo era o impensável, como é que me eu poderia casar com um paspalho que conheci na noite de natal? Como ? Eu perguntava-me todos os dias... Era impossível de contrariar a minha família, estavam todos formatados, todos sem excepção pareciam soldados alinhados a marcharem contra mim... Meu pai fazia questão de me alertar todos os dias para a falta de dinheiro e que esta era a única maneira de nos resgatar da iminente miséria, e que com o passar dos anos seria feliz e acabaria por gostar dele... Irritava-me o desprezo que tinham pela minha opinião e pela minha liberdade.
Foi tortuoso, arrancaram-me da cama de manhã cedo e a partir daí deixei de ter o controlo de mim própria, deixei-me arrastar mais uma vez pelos fios, só acordei quando estava no altar com o vestido branco de roda, feito de seda aquele que tinha sido da minha prima mais velha, uma desgraça, com um penteado elaboradíssimo, jóias e sapatos igualmente emprestados... Estava a tremer de susto que já nem sentia o espartilho sufocante, até que quando chegou a hora de dizer o “sim”, mudei, parei no tempo e apercebi-me que aquele era o momento. Corri o mais depressa que pude, voei até à entrada da igreja até que me voltei para trás e só tive coagem de dizer “Desculpem”.
A partir daí só parei a minha corrida quando cheguei a casa, quando me tranquei no meu quarto, sentei-me na cama e expirei. 
Olhando para o meu vestido, com o véu nas mãos, ali estava eu virada de costas para a janela pensando como tinha chegado àquele ponto e o que iria fazer. Foi então que só me ocorreu o pensamento “Tenho que fugir”. 




Maria Mendoça

sábado, 19 de outubro de 2013

Nighthawks

Eu escolhi a pintura Nighthawks de Edward Hopper porque o seu realismo e tal que parece uma fotografia tirada nos anos 40.
O quadro em si parece-me austero e frio por causa das cores utilizadas como o branco e o amarelo pálido pintado com grande intensidade e que contrasta com os vermelhos do prédio e do balcão.
O autor teve muito cuidado o que mostra  a sua perfeição e dedicação há pintura.
O interior do café parece acolhedor e de um ambiente agradável, ao passo que a rua mostra uma noite deserta e apenas iluminada por aquele ambiente agradável do café.

   Ficheiro:800px-Nighthawks.jpg

                                                                                                             André Alves

"Railroad Sunset" de Edward Hopper

"Railroad Sunset",por Edward Hopper, retrata uma paisagem de um pôr-do-sol e um caminho de ferro.
  Neste quadro a óleo, o pôr-do-sol  é o que desperta mais atenção, o sol é um elemento de poder e a lua de renovação, por isso pode-se considerar o por do sol um equilíbrio entre os dois elementos.
 Neste quadro vê-se uma espécie de torre por onde passa o comboio e algumas tabuletas.  Não existe qualquer tipo de movimento, nem de pessoas, nem de animais. Pelas janelas da torre não se vê ninguém, talvez por ser tarde, ou então, por estar abandonada.
 O quadro transmite-nos uma ideia de solidão, de melancolia e de silêncio, pois o movimento é inexistente, assim como a presença de pessoas.
 As pinturas de Edward Hopper são caracterizadas pelo silêncio, pela solidão e pela estagnação humana.





                                                                                                                                                                                  Francisco Coelho