domingo, 3 de novembro de 2013

Autobiografia

Autobiografia, autobiografia, autobiografia, que raiva, esta palavra não me sai da cabeça, que palavra difícil. Porquê? Porque será que é uma daquelas que me faz tremer as mãos, olhar para o chão e franzir a testa. Perigosa, pois mostra-me aquilo que não quero admitir, aquilo que não quero ver nem encarar de frente. Isso seria: eu.
Dizer quem sou, acho que nunca foi, tão complicado, como pôr-me em papel? É provável que já tenha feito uma ou duas autobiografias na minha vida (sim numa vida de 14 anos), mas em nenhuma delas me desdobrei e se as lê-se neste momento, seriam sim, de outra pessoa.
Vá! Maria não adies mais esta conversa, chega de engonhar! Um, dois, três… Já está. Vejo-me agora no espelho. Numa família de sonho cresci, numa infância memorável brinquei, na adolescência estou. Que maravilha não quero sair daqui. Sim, aparentemente, pois há momentos que não, apetece-me morrer, esconder-me, gritar e chorar: sou esta pessoa? Que egoísta, que não vive a vida, limitada pelos seus medos, sem pinga de humildade, ser humano desprezível e miserável. Acho que todos num certo momento nos sentimos assim, queremos voltar atrás no tempo voar á velocidade da luz e… fazer aquilo que não fizemos, estrangular, abraçar alguém, desgraça. Talvez sim, mas (há sempre um “mas”), se alterássemos o passado como seria o presente? Ah pois, visto desta forma o passado soa-nos apetecível, bem como o agora.

Assim aqui estou eu, pessoa estranha, sem emenda, põe sempre o pé na poça, que não se reconhece, que tão facilmente ri como chora, reage com cabeça quente, explode como bomba atómica, acredita em tudo (especialmente naquilo que não devia), ama (palavra forte) não finge, que quando sofre solta as correntes do pacífico, insegura, que treme a cada desafio, mas que quando vem a brisa fresca da manhã, o sol da madrugada, o silêncio do crepúsculo, fecha os olhos e é feliz.

Sem comentários:

Enviar um comentário