sábado, 2 de novembro de 2013

Autobiografia



(Creio que não tenho história de vida suficiente para fazer uma autobiografia, mas aqui vai:)

Nasci no hospital São Francisco Xavier, parto sem problemas, peso e altura normais para um recém-nascido. Fiz os testes que deveria fazer, e aí fui rotulado.
Desde sempre que fui uma criança diferente, sempre fui um inadaptado na sociedade e sempre serei, porque tenho um distúrbio mental que vem comigo desde a nascença.
Aprendi a ler e a escrever bastante cedo, com quatro anos. Aos cinco anos já fazia multiplicações e fazia a tabuada com facilidade. As pessoas viam-me como um sobredotado (algo que não era), e isso foi afastando-as gradualmente, a meu ver. Fiz amizades dificilmente por causa da minha falta de capacidade de socializar, e parecendo que não, isso marca uma pessoa por dentro.
Os anos que passaram foram um misto de felicidade e tristeza. A minha inteligência, ao que parece, acima da média, permitiu-me não fazer o segundo ano de escolaridade. Não foi fácil, demorei anos a adaptar-me, a conviver com pessoas mais velhas, que me viam com diferença e com algum desprezo. Foi aí que percebi a minha inadequação em relação ao mundo e ao suposto protótipo da criança do século XXI. Fui a psicólogos e tinham todos a mesma opinião acerca de mim: era diferente.
Foram anos difíceis, em que sem sabendo, procurava persistentemente a paz em mim. Anos em que sofri bullying, em que me sentia miserável, em que demorava em entender o porquê de eu ser como era. Ainda não sabia quem eu era, e isso causava uma inquietação em mim que me tirava a autoestima facilmente.
Só no ano passado encontrei a paz que teimava em ser encontrada. Conheci melhor as pessoas certas, soltei-me, fui de pés juntos em direção ao desconhecido. É um sentimento que poucas pessoas como eu conseguem ter, porque é difícil obtê-lo. Senti emoções que já deveria ter sentido há muito tempo, senti o que era o amor, a amizade, e é uma liberdade que sabe bem.
Nem tudo o que é bom dura, no entanto. Essa liberdade terminou quando mudei para o ensino secundário e para uma nova escola. É uma nova realidade, e aí volto a questionar-me quem realmente sou eu. E creio que demorarei a descobrir isso. Mas só tenho catorze anos, há tempo suficiente.

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