terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Um mover d'olhos brando e piadoso

Um mover d'olhos brando e piadoso

Um mover d’olhos brando e piadoso,
Sem ver de quê ; um sorriso brando e honesto,
quási forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;

Um desejo quieto e vergonhoso;
um repouso gravíssimo e modesto;
ũa pura bondade, manifesto
indício da alma, limpo gracioso;

Um escolhido ousar; ũa brandura;
um medo sem ter culpa; um ar sereno;
um longo e obediente sofrimento:

Esta foi a celeste formosura
da minha Circe, e o mágico veneno
que pôde transformar meu pensamento.

Luís de Camões


Neste soneto o poeta usa adjetivos que, em geral, são utilizados para o carácter psicológico para descrever coisas como um olhar ou um sorriso. Esta maneira de descrever tais atos leva a crer que, através dela, ele tem a intenção de descrever a própria pessoa e o seu carácter.

O poeta tenciona acentuar a beleza e perfeição da mulher que é objeto da sua admiração, levar o leitor a perceber que, com tão perfeitos e belos gestos, ela como que o controla, o mantém sob o seu encantamento. Este encantamento que é descrito como mágico veneno que mudou o pensamento do poeta é o que se pode chamar de paixão pois, como se diz muitas vezes, "o amor é cego" e este amor cegou o poeta.

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