domingo, 23 de fevereiro de 2014

Interpretação do poema "Um Fado: Palavras Minhas" de Pedro Tamen


Um Fado: Palavras Minhas 

Palavras que disseste e já não dizes, 
palavras como um sol que me queimava, 
olhos loucos de um vento que soprava 
em olhos que eram meus, e mais felizes. 

Palavras que disseste e que diziam 
segredos que eram lentas madrugadas, 
promessas imperfeitas, murmuradas 
enquanto os nossos beijos permitiam. 

Palavras que dizias, sem sentido, 
sem as quereres, mas só porque eram elas 
que traziam a calma das estrelas 
à noite que assomava ao meu ouvido... 

Palavras que não dizes, nem são tuas, 
que morreram, que em ti já não existem 
— que são minhas, só minhas, pois persistem 
na memória que arrasto pelas ruas. 
     
                                     Pedro Tamen


Neste poema, a temática do amor é explorada na perspetiva deste sentimento enquanto algo capaz de transformar profundamente a existência do "eu". Neste caso, a recordação do passado está, afinal, bastante presente na vida do sujeito poético. 
A repetição do mesmo início em cada estrofe, põem em evidência a recordação intensa das palavras que eram ditas. 
As palavras proferidas, à distância, pela amada, eram carregadas de um sentido profundo, sendo capazes de criar um mundo perfeito. 
A "palavra" tem repetidamente, em todo o poema, um significado muito para além daquele que lhe podemos atribuir num sentido denotativo - as palavras que o "eu" ouvia transmitiam a ideia da profunda e perfeita ligação entre os dois, através delas, a amada transformava o mundo do sujeito lírico num mundo calmo. 
Porém, na última estrofe, torna-se claro que o sujeito poético e a pessoa com quem partilhava o amor já não estão juntos. Sem sabermos a razão dessa ausência, percebemos claramente que o sujeito lírico continua a recordar as palavras que ouvia. 
No presente, essa recordação poderá ser a única força que tem para continuar a enfrentar as dificuldades. 

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