quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Interpretação do poema "Um mover d'olhos brando e piadoso", Luis de Camões

Um mover de olhos brando e piadoso,
Sem ver de quê; um sorriso brando e honesto,
quási forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso

Um desejo quieto e vergonhoso;
um repouso gravíssimo e modesto;
ua pura bondade, manifesto
indício da alma, limpo e gracioso;

Um escolhido ousar; ua brandura;
um medo sem ter culpa; um ar sereno;
um longo e obediente sofrimento:

Esta foi a celeste formosura
da minha Circe, e o mágico veneno
que pôde transformar o meu pensamento.

Esta composição estrófica o sujeito poético descreve o tu lírico, salientando as suas características: a amada revela-se alegre (“sorriso”), genuína (“honesta”), amável (“um doce e humilde gesto”), benévola (“uma pura bondade”). O sujeito demonstra o seu desejo carnal (“um desejo quieto e vergonhoso”) pela amada, pela sua figura feminina (“celeste formosura”). Figura feminina que lhe enfeitiçou, tornando-a num pensamento inevitável (“que pôde transformar meu pensamento”).

Na minha opinião este é um poema que, dá valor aos traços morais, tenta produzir uma imagem de idealização e não de individualização. Um poema em que o sujeito poético descreve a figura feminina de uma maneira petrarquista, porque faz uma adjetivação abundante e por substantivos abstratos.

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