Na brasa da fogueira mal ardida
renovo o fogo que perdi,
acendo, ascendo, ao lume, ao leme, à vida.
E só trocado, parece, por não ser
na verdade conjugo o velho verbo
e sou, remido esquartejado,
o retrato perfeito em que exacerbo
os passos recolhidos pelo tempo andado. Pedro Tamen, in “Rua de Nenhures”
Nos dois primeiros versos, o sujeito poético expressa o seu sentimento de culpa, talvez por ter perdido momentos preciosos que podia ter passado ao lado da sua amada, e sabe claramente que ele próprio é o único responsável. No entanto, nos dois versos a seguir, parece pedir uma segunda oportunidade para voltar a viver essas memórias perdidas, essas lembranças esquecidas quando diz: "renovo o fogo que perdi,/ acendo, ascendo, ao lume, ao leme, à vida". Ele quer voltar a viver o que não viveu.
Na segunda estrofe, o sujeito poético sugere a ideia de que apesar de ter tentado voltar atrás e recuperar o que estava perdido, esse esforço não é suficiente para se redimir e por isso é torturado pelas escolhas que fez no passado, escolhas essas que já não pode desfazer, erros que já não pode corrigir.
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