A Inigualável
Ai, como eu te queria
toda de violetas
E flébil de cetim...
Teus dedos longos, de
marfim,
Que os sombreassem
jóias pretas...
E tão febril e
delicada
Que não pudesse dar um
passo -
Sonhando estrelas,
transtornada,
Com estampas de cor no
regaço...
Queria-te nua e
friorenta,
Aconchegando-te em
zibelinas -
Sonolenta,
Ruiva de éteres e
morfinas...
Ah! que as tuas
nostalgias fossem guizos de prata -
Teus frenesis,
lantejoulas;
E os ócios em que
estiolas,
Luar que se
desbarata...
Teus beijos, queria-os
de tule,
Transparecendo carmim
-
Os teus espasmos, de
seda...
— Água fria e clara
numa noite azul,
Água, devia ser o teu
amor por mim...
Mário de Sá-Carneiro
Neste poema, o autor mostra-se na posição
de um apaixonado que procura explicar o que sente, através de uma descrição aprofundada
dos seus quereres e fantasias diante da mulher amada. Para tal, recorre, por
diversas vezes, ao uso da metáfora, comparando a sua amada a coisas raras, valiosas,
contraditórias e únicas.
De uma forma peculiar, o amor veste-se
de um sentimento que cega e transtorna o amador que, como se pode observar no
poema, por vezes, até quer que a sua amada se mostre febril e friorenta.
Como em várias obras de lírica, o poeta
dá às palavras o seu próprio significado, reinventando-as em contexto de arrebatamento
amoroso, criando novos sentidos que expressam o seu sentir, o seu desejo e o
seu querer, nem sempre entendido ou correspondido.
Este sentimento é algo que não pode ter
qualquer significado objetivo, é algo que só pode dizer-se quando o eco sai de
dentro de nós sob a forma de palavras. O amor é sempre subjetivo, para se
compreender tem de se sentir e viver. Cristaliza uma emoção que varia de pessoa
para pessoa, criando estados de espírito confusos, sentimentos contraditórios,
ansiedade, bloqueios, inibições, comportamentos excessivos e exacerbados mas
que, na minha opinião, é crucial para a vida e para nos sentirmos vivos pois
sem ele apenas seríamos seres amorfos, limitados, monocromáticos como pedras
incapazes de movimento.
David Barroso, 10º C
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