Nesta
última tarde em que respiro
A
justa luz que nasce das palavras
E
no largo horizonte se dissipa
Quantos
segredos únicos, precisos,
E
que altiva promessa fica ardendo
Na
ausência interminável do teu rosto.
Pois
não posso dizer sequer que te amei nunca
Senão
em cada gesto e pensamento
E
dentro destes vagos vãos poemas;
E
já todos me ensinam em linguagem simples
Que
somos mera fábula, obscuramente
Inventada
na rima de um qualquer
Cantor sem voz batendo no teclado;
Desta
falta de tempo, sorte, e jeito,
Se
faz noutro futuro o nosso encontro.
(António
Franco Alexandre)
Tempo,
ai como ele nos atormenta! Como a água que escorrega pelas mãos é o tempo.
Quando
ele nos acaba, é aí que nos lembramos dele, nos damos conta que já passou e que
um último suspiro paira perante nós, revelando-nos uma paz, envolvida na
revolta, a tal revolta interior que permaneceu em nós desde sempre.
Neste poema é nos introduzido esse
fim, uma respiração derradeira numa tarde serena. Nesse crepúsculo uma breve
luz brilha, lindo vislumbre de um sonho, de uma promessa ardente, que por mais
desejada que seja, não escapa e desvanece-se no largo horizonte.
Mas afinal o que será este cruel
horizonte que tudo consome, até a ínfima luz? Esse seria certamente o
Tempo. E o tremeluzente raio de sol? Não
poderia ser nem mais nem menos do que o Amor. Perfeito, ora, acabamos de confrontar
dois velhos inimigos: o Tempo e o Amor, pois podemos pensar, como eu disse à
pouco, que o horizonte suga a luz, mas este poema vem nos mostrar o contrário. Um
element curioso nos alta há vista, a promessa que traz consigo muito mais do que
aparenta, com ela, vem a lembrança, a ausência,
a saudade, de um amor há muito procurado mas nunca concretizado, contudo é nos
impossível negá-lo e deixá-lo cair no esquecimento profundo do tempo, seria a
maior das traições, e toda uma vida, um gesto, pensamento ou poema não passaria
de uma “mera fábula”, que só existiria numa possível imaginação, numa rima vulgar de um cantor sem voz e sem alma, nada
faria sentido, tudo teria sido em vão… É precisamente aqui que realizamos, que
o Amor é intemporal e que por mais que se tente dissipar, continuará a "rebelar-nos" o coração, que há pouco tão calmo estava. Não podendo fugir dele e
já que tanto o tempo, como a sorte e o jeito não foram suficientes, só resta
esperá-lo noutro futuro, noutra dimensão, noutra realidade talvez mais
perfeita, mais feliz…
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