É inevitável falar-se de amor. Todos os dias se vêem
manifestações de amor.
Vemos o amor que uma mãe nutre pelo seu filho. Os beijos de
namorados ou entre um marido e mulher ou não.
E, antes de mais, a razão do amor. O amor surge por uma
razão biológica. O amor que uma mãe sente pelo seu filho é uma forma de o
proteger e, em última análise, assegurar a sobrevivência da espécie. O mesmo se
passa com o amor que sentem dois amantes. O procurar um parceiro, ou um amor é
em parte para garantir que a informação genética mais “preciosa” ou de “melhor
qualidade” é passada para outras gerações. E pode-se pensar que isto tira a sua
beleza àquilo que vemos como o amor, mas é uma realidade. E há tanto mais.
Tomemos outro exemplo. Os funerais são uma manifestação de
amor. Para com o defunto, para com quem sofre com a perda de quem morreu, mas
algo irracional do ponto de vista biológico.
Algures na evolução do ser humano, o amor perdeu a
exclusividade da sua função de sobrevivência da melhor genética para ter também
o objectivo de encontrar a felicidade, que é uma noção que, apesar de também
estar relacionada com a procura da qualidade de vida, tem o seu quê de
irracional.
Porque é que sentimos a necessidade de consolar quem sofre?
Porque é que partilhar é comum ao ser humano?
Mesmo que o que motiva o amor de uma mãe que acompanha o
crescimento do seu filho seja baseado na necessidade de sobrevivência da
espécie, o que motiva o filho que acompanha a mãe no seu envelhecimento? O que
explica o amor homosexual? Porque é que um casal procura a felicidade e
satisfação (espiritual, intelectual, física e sexual) mútua?
Tudo isto são manifestações de amor — sentimento — que é
intrínseco a todos os seres humanos: a procura da felicidade.
O amor é a procura da felicidade nos outros, é o sentir o
que os outros sentem, a alegria, a dor, por amor. É dar parte de mim próprio
para criar algo belo com o meu próximo, algo que me ultrapassa. Porque amo o
meu próximo, porque para mim aquela pessoa é quem me vai tornar exterior a mim.
A forma mais próxima da felicidade que vou conhecer. E só poderemos amar, ser
exteriores a nós próprios quando dermos parte de nós a quem nos ama.
Mesmo o partilhar um chocolate, ou segurar uma porta para
alguém passar é, em última instância, uma manifestação de amor.
O próprio ódio é uma manifestação de amor. Da ausência dele.
Todos nós amamos. Amamos as pessoas. Os seres humanos são o
objecto do amor que sentimos, da mesma forma que nós somos o objecto do amor de
outras pessoas, e a partir do momento em que amamos um bem material da mesma
forma que amamos o Homem, começamos a perder aquilo que faz de nós parte da
humanidade.
O amor existe.
A imagem do amor é feita por cada um de nós.
O amor deve ser defendido. Porque nos deixa e a quem amamos
e a quem nos ama mais perto da felicidade que nunca alcançaremos. Mas que todos
desejamos.
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