Devem estar a achar estranho este
título, ora títulos não costumam ser perguntas, mas sim este também não é… Até
a que ponto pode ir a arte? Será que um risco numa tela é arte? Tudo isto vai
ter de partir da definição, supostamente subjetiva, da arte, pois afinal o que
é a arte?
Meus caros a arte não é nada mais nada menos que a
expressão do ser humano, uma necessidade demasiado forte, inconsciente e
incompreendida, de mostrar aos outros o que sentimos, o que fomos, somos, ou
queremos ser e que nos afeta a todos de diferentes maneiras, que pela sociedade
podem ser interpretadas como sendo mais ou menos artísticas (mas afinal o que é
que os outros sabem de nós para nos poderem catalogar…).
Assim ao fazermos a nossa arte nós
sentimo-nos extremamente realizados e felizes apenas por concretizá-la, porque
apesar das milhentas emoções diferentes que possamos ter como motivação para a fazer,
o último e imperial objectivo é aquela sensação de libertação de nos vermos
noutro sítio, seja esse lugar uma tela,
uma escultura, um texto, uma música, até um sorriso ou um olhar. Logo ao
contrário do que se pensa a arte é inevitavelmente egoísta, pois tal como uma
bomba, que apesar de poder atingir tudo à sua volta, só é destinada a uma coisa,
e isso seria: a nós próprios.
Continuando, sendo que a arte é para
quem a faz, ninguém nos pode dizer que o nosso risco na tela não é arte, nós é que
o decidimos e é bom que sejamos honestos pois não há nada mais grave do que
mentirmos a nós próprios, do que fazermos algo, apregoarmos que é a nossa arte
mas que no nosso íntimo sabermos que foi apenas para fazer aquelas férias nas
Caraíbas…
Portanto o
que vem a ser esta cena de “sensação de libertação de nos vermos noutro sítio”,
realmente é a isto que se resume a arte… Não vos posso dar uma definição
matemática, porque tal como o nome indica é apenas uma sensação, mas o que é a
nossa vida afinal senão um acumular de diferentes sensações, que prolongadas
transformam-se em momentos, acontecimentos, dias, meses, anos, uma vida… E agora qual a necessidade de nos vermos noutro sítio? O que somos, o que nos
define? Será que eu sou o meu corpo? Se me amputassem toda deixaria de ser eu?
Será que é possível os outros reconhecer-me em alguma outra coisa senão em mim
própria? A resposta é sim, óbvio: na Arte.
Concluindo
quem faz a arte somos nós mesmos, independentemente de ser um risco numa tela
ou não, por exemplo imaginem que eu estava a fazer o pino apenas apoiada com um
braço no chão, com um pincel na outra e conseguia fazer um risco perfeitamente
reto? Poderiam ver o quadro no final e parecer tremendamente despropositado, mas
que sabem eles sobre esse quadro… O importante está em não desonrar a Arte,
pois sem ela o que seria de nós?
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