domingo, 3 de novembro de 2013

Autobiografia

Autobiografia... nunca gostei muito desta palavra. Sempre que me pediam para fazer uma autobiografia, era como se me tirassem a roupa, sentia me exposta e desconfortável. Mas na vida vamos ter de fazer coisas de que nem sempre gostamos por isso é melhor começar.
Nasci a 19 de Junho de 1998 no Hospital Particular. Posso dizer que sempre fui uma criança muito ativa (às vezes um pouco envergonhada) e que fazia amigos com facilidade. Gostava de brincar a tudo mas não era uma rapariga normal. Em vez de bonecas e nenucos (que odiava) pedia sempre, para o Natal, jogos e "hot wheels"... era uma maria rapaz.
Entrei para o 1º ano um pouco insegura e com algum medo num colégio que acho que só consigo descrever como inesquecível e que ainda me traz saudades desses tempos. Chamava-se Externato das Escravas do Sagrado Coração de Jesus e foi, nestes 15 anos da minha vida, a melhor experiência que alguma vez tive, marcada por tantas brincadeiras e episódios como da vez em que queimei o meu cabelo (não todo apenas um caracol), quando estávamos no 2º ano e íamos, um a um, preenchendo um desenho com cera com uma vela ao lado, que pelos vistos estava demasiado perto do meu cabelo.
Os meus pais divorciaram-se nessa altura, eu ainda era muito nova e não percebia o que se passava por isso deixei-me levar, simplesmente, tentando adaptar-me às novas caras estranhas, aos novos espaços desconhecidos. Entretanto, o meu pai arranjou uma namorada e penso que o único dia em que ela foi simpática comigo foi no dia em que nos conhecemos. Ela tinha uma filha dois anos mais nova que eu, feia, gorda e mimada que tinha e fazia tudo o que ela queria porque a "mãezinha" deixava. Eu era constantemente alvo de desprezo e sentia me sempre "a mais". Apesar do meu pai conversar com ela sobre isso, nada se alterava. Foram 5 anos perdidos.
No entanto, esse capitulo terminou quando eu entrei para o 7º ano. Mudei de escola, porque as "escravas" (como nós chamávamos) acabavam no 6º ano. Fui para o Colégio do Bom Sucesso e como se não bastasse o que tinha acontecido nos 5 anos anteriores, foram mais 3 anos ao lado de pessoas que se aproveitavam de qualquer coisa para gozar comigo. Era o meu cabelo, era a minha cara, era a forma como agia, tudo. Fiz alguns amigos mas apesar disso foi um choque. Foi como uma facada nas costas. Sentia-me estúpida, odiava-me, queria desaparecer mas achava que não era importante e, por esta razão, guardava tudo para mim, não falava disso com ninguém, não queria que ninguém soubesse, ninguém podia saber. Achava que era fraco da minha parte revelar isso aos outros, tornava-me vulnerável. Só tive coragem de contar isto à minha mãe no fim do 9º ano quando ia finalmente sair de lá, quando já não consegui conter me. Desabafei tudo e ela ficou um pouco chocada e espantada de como eu tinha conseguido esconder isto durante 3 anos. Agora é passado e ainda bem.
Entrei para o 10º ano na Escola Secundaria Quinta do Marquês esperando sempre o pior. Tinha medo que se repeti-se tudo outra vez, no entanto está a superar as minhas expectativas e fico feliz por isso.
Ainda só passaram 15 anos, sabe-se lá o que o futuro me espera.

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